O governo Português que sucessivamente tem vindo a confirmar ideias e decretos que há
poucos meses, na oposição, veementemente contestava, reuniu o conselho de concertação social...
Presentes ou representados:
OsCoelhos: (governantes)
As raposas: (patronato)
Os frangos: (trabalhadores)
A consertação, à semelhança do que estamos habituados, desde que há alguns anos Cavaco a iniciou, e da qual ainda muito se orgulha, tem vindo a ser um jogo onde:
o árbitro arbitra mal e afuniladamente;
As raposas mostram toda a sua esperteza e sagacidade que tolerante e repetidamente
os governos lhes permitem;
Os frangos, esses, saem sempre depenados;
O diálogo ainda mal começou mas após o primeiro round as raposas, risonhas de
contentamento deram-se por entusiasmadas e felizes com o primeiro embate...
Ganharam logo ao ir a jogo, a redução de 20 para 10 dias de indemnização nos despedimentos,
contrariando a proposta, já de si desonesta, do governo do Socrates...
Os frangos, reclamam e desanimadoramente protestam e pregam no deserto mas a verdade
é que foram depenados... ainda vão acabar por ser eles a pagar o fundo de indemnização!...
Os coelhos, esses respiram fundo e dormem entre o sobrassalto e a secreta esperança
de que os galináceos não saiam às ruas como na Grécia, contestando... e bradando...
Mas, não sendo este escriba, o senhor de La Fontaine, nem este artigo um conto para
crianças, a verdade, verdadinha é que depois dos pintos depenados, as raposas não deixarão
de fazer aos coelhos o que vulgarmente o seu instinto predador, voraz e insaciável sempre determina: vão também comer os coelhos reverentes e servidores.
E tudo foi programado com (a melhor das intenções!...) salvar a pátria lusitana... onde é que eu
já ouvi isto?... Ah! já me lembro... era ainda garoto... lá vamos cantando e rindo...
E os frangos?...
Esses, os que se acomodarem e entrarem na coelheira cantam o hino de (. . . . . . . )
Lá vamos cantando e rindo
Levados, levados, sim,
Pela voz do som tremendo,
Das tubas, clamor sem fim.
Lá vamos, que o sonho é lindo,
Torres e torres erguendo,
Clarões, clareiras abrindo,
Alva de luz imortal,
Que rôxas névoas despedaçam,
Doiram os céus de Portugal...
Claro que em alternativa, em surdida e muito baixinho, os contestatários, podem sempre consolar a alma com a canção do Zeca Afonso: eles comem tudo, eles comem tudo eles
comem tudo e não deixam nada...
Entretanto nesta terra lusitana, os jornais noticíam:
Que há listas de espera para adquirir Ferraris, Porsches e outros carros de gama alta!...
Que as classes média e baixa estão a entregar as casas aos banqueiros porque perderam os empregos... e não as podem pagar...
Que o grande capital não paga impostos!...
Que ao banco alimentar está a chegar todos os dias a classe média envergonhada, com fome;
Que o governo aumentou de sete para onze os administradores da caixa geral de depósitos!...
Que o BPN onde o estado meteu milhões, vai ser vendido por tostões!...
Que os reformados não têm dinheiro para rendas e medicamentos...
Que algumas crianças precisam de, em férias, continuar a ir à escola para terem uma refeição!...
Que do subsidio de Natal boa parte vai para o estado!...
Mas como dizem os espanhóis.... « aqui??? aqui não se passa nada» ...
E as raposas... as raposas... senhores, nos seus fatinhos feitos á medida, entretanto sorriem em orgasmos de contentamento e dizem: era preciso mais mas para já não está mal.
Entretanto esperemos que o amanhã seja melhor... Mas pôrra!....nós queremos ser felizes hoje,
e não ter que passar a vida a cantar:
A formiga no carreiro,
Andava á roda da vida....
Com o meu abraço e o meu afeto,
declaradamente não partidário
João Quitério
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