Foto extraída do Jornal de notícias |
Há hábitos mecânicos dos quais desconhecemos a origem, a razão ou o reflexo condicionado, que nos impulsiona a
insistentemente da mesma forma proceder...
Sempre começo a minha leitura do jornal, da revista ou
do livro pela ultima página; por hábito ou talvez porque
no meu subconsciente exista o misterioso desejo de
conhecer o (fim?...)
Sempre assim foi e duvido que algum dia seja de outra forma...
Assim sendo, o artigo de opinião diáriamente assinado por Manuel António Pina na ultima página do JN é o meu
primeiro deleite literário, acompanhado de um cimbalino
e um cigarro, e que contrariedade sinto, quando (raramente) por alguma razão, o artigo não está presente...
Aí! O dia já começa mal...
Eis pois que António Pina já não é ele só... faz parte do
universo de vida de cada leitor seu e sentindo-nos nós mesmos fundidos com ele, (ainda que por vezes discordemos) chegando
a tornar-se familiar a maneira de o ler e estudar.
A sua opinião, pela acutilância e força das suas palavras escritas com o coração, adornadas pela finura dos sentidos e cheias daquele toque de simplicidade, naturalidade e generosidade de que apenas alguns eleitos são investidos, tornam-se como um ato indispensável ao dia dia de alguns.
Não se pense que conheço António Pina, de forma alguma, o meu conhecimento advém apenas dos seus escritos e da
sua obra que há pouco foi justamente reconhecida com a atribuição do prémio Camões e ao qual ele simplesmente se referiu como: É a coisa mais inesperada que podia esperar.(M.A.P.)
Inesperada pode ter sido na sua maneira simples e natural de ver e sentir, mas merecida, digo eu, pois a polivalência da escrita do laureado vai muito para além do que é normal...
E se Manuel António Pina sai prestigiado com o prémio Camões, mais prestigiados saem Portugal e nós portugueses
por sabermos que a literatura e a poesia é das poucas coisas que resistem ao déficit e estão de boa saúde na lusa terra.
Conhecer o pensamento e a obra do laureado ilumina o espirito e refresca a mente conforme se pode verificar
no poema seu, que escolhi para completar esta minha singela homenagem ao escritor e poeta.
Arte poética
Vai pois,poema, procura
a voz literal
que desocultamente fala
sob tanta literatura.
Se a escutares, porém tapa os ouvidos,
porque pela primeira vez estás sózinho.
Regressa então, se puderes, pelo caminho
das interpretações e dos sentidos.
Mas não olhes para trás, não olhes para trás,
ou jamais te perderás;
e teu canto, insensato, será feito
só de melancolia e de despeito.
E de discórdia. E todavia
sob tanto passado insepulto
o que encontraste senão tumulto,
senão de novo ressentimento e ironia?
A Manuel António Pina e aos meus leitores e seguidores,
deixo o meu abraço e o meu afeto.
João Quitério.
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