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segunda-feira, 29 de agosto de 2011

MEU DEUS PORQUÊ? as crianças!...








Lirios para as crianças vitimas de violência



A semana passada a notícia arrepiante: pai com criança de seis
anos atira-se à linha do comboio em póvoa de Santa Iria:
(razão) do acto: a esposa e mãe da criança assassinada havia-o deixado...

Na mesma semana, via facebook chega até nós outra notícia:
mãe espanca de tal maneira o filhote que este lhe morre nas
mãos:  
(razão) do acto: a criança chegou junto dela dizendo que com
o seu baton tinha escrito uma coisa bonita no lençol da cama...

A mãe, antes de verificar o estrago, parte para a agressão louca e com espanto seu a criança morre nas suas mãos;
é então que ela depois vai vêr o estrago do lençol que a criança havia escrito, olhou-o, e verifica que apenas dizia:
MAMÃ GOSTO MUITO DE TI...


Faltam-me as palavras e a vontade de comentar estes
e outros actos de violência contra crianças sempre indefesas...
Mas direi:  o céu chora e as estrelas perdem brilho.

Permito-me só e apenas  interrogar: porquê  as crianças meu
Deus?

Talvez um dia ELE me responda...

Por agora fico-me com este pensamento de Nelson Mandela:

"QUE MUNDO É ESTE QUE PERMITE A FOME E A VIOLENCIA SOBRE CRIANÇAS"
  


A todos os que  abominam a violência sobre crianças
deixo o meu abraço e o meu afeto.
João Quitério


quarta-feira, 24 de agosto de 2011

CARTA DE UM CONTRATADO




mulher de Angola  de autor não identificado





De António Jacinto,  poeta, (o branco mais negro de Angola)







Eu queria escrever-te uma carta amor...

Eu queria escrever-te uma carta amor,
uma carta que dissesse deste anseio de te ver,
deste receio de te perder,
deste mais bem querer que sinto,
deste mal indefinido que me persegue,
desta saudade a que vivo todo entregue...

Eu queria escrever-te uma carta amor,
uma carta de confidências intimas,
uma carta de lembranças de ti,
de ti, dos teus lábios vermelhos como tacula
dos teus cabelos negros como diloa,
dos teus olhos doces como maboque,
do teu andar de onça
e dos teus carinhos que maiores
não encontrei por aí...

Eu queria escrever-te uma carta amor,
que recordasse os nossos tempos na capôpa,
nossas noites perdidas no capim,
que recordasse a sombra que nos caía dos jambos,
o luar que se coava das palmeiras sem fim,
que recordasse a loucura da nossa paixão
e a amargura da nossa separação...

Eu queria escrever-te uma carta amor,
que a não lesses sem suspirar,
que a escondesses do pai Bombo,
que a sonegasses da mãe Kieza,
que a relesses sem a frieza do esquecimento,
uma carta que em todo o kilombo
outra a ela não tivesse merecimento...

Eu queria escrever-te uma carta amor,
uma carta que ta levasse o vento que passa,
uma carta que os cajús e cafeeiros,
que as hienas e palancas,
que os jacarés e bagres pudessem entender;
para que se o vento a perdesse no caminho, 
bichos e plantas compadecidos do nosso pungente sofrer;
de canto em canto, de lamento em lamento,
de farfalhar em farfalhar,
te levassem puras e quentes 
as palavras ardentes ,
as palavras magoadas da minha carta
que eu queria escrever-te amor...

Eu queria escrever-te uma carta....

Mas ah! Meu amor,
eu não sei compreender ,
porque é, porque é, porque é meu bem
que tu não sabes ler....
E eu... Oh! Desespero!...
Também não sei escrever...

vocabulário
tacula: madeira avermelhada
dilôa: barro escuro, lôdo
macongue: fruta de pôlpa doce
aboque:fruto azedo
capôpa: pequeno  riacho


António Jacinto, 1924-1991 - poeta e escritor angolano, de origens em Alfandega da Fé, Bragança, branco de raça,  negro de coração, foi talvez, o poeta e escritor branco,
mais negro de Angola; nasceu em Luanda, mas registado no Golungo alto  e faleceu em Lisba.
Foi sepultado em Luanda.
.
Contestatário politico esteve exilado de 1960 a 1972  no tarrafal (prisão politica em Cabo Verde)
Após a independência foi ministro da cultura no governo de Agostinho Neto.

Porque África em geral e Angola em particular possui um feitiço que nenhuma mézinha cura,
de quando em vez  a ela e aos seus dedico espaço neste blog. Afinal, foi lá que cresci!...
E é dela esta saudade magoada que o vento por vezes teima em trazer-me com o seu cheiro
a terra molhada, a terra magoada.
A todos os leitores e em especial aos que em Angola me lêem deixo...
O meu abraço e o meu afeto.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

A FLÔR DA PAIXÃO

De beleza extraordinária a flor do maracujá
Também conhecida por flor da paixão (fotos do autor do blog)



Esta flor de extraordinária beleza pertence à família das
(passifloriaceae), abrem na exposição solar e fecham-se
pelo fim da tarde. Oriundas da região tropical da américa
do sul, especialmente do Brasil.
Por capricho da natureza também se encontra em raros
locais de Portugal. Estas que aqui apresento foram
fotografadas por mim em Vila nova de gaia, distrito
do Porto. Faço a sua postagem, aqui, no sonharafetos,
por me ter impressionado a sua beleza cheia de cores
harmoniosas e partilhá-las com os meus leitores e seguidores.

A flôr dá origem ao fruto maracujá e também é conhecida
e utilizada para chá, sendo-lhe conhecida a sua importância
como anti-inflamatório e também como calmante.

A flor que também é conhecida por -Flor da paixão- deve
este nome ao facto de  ter desenhada a coroa de espinhos,
as cingo chagas de Cristo e o pormenor dos três pregos
que fixaram Jesus na cruz.





as flores pela manhã abrindo sob o efeito do sol











quarta-feira, 17 de agosto de 2011

MULHERES BALZAQUIANAS

Honore Balzac 20/5/1799-18/8/1850















Quando no século dezanove o Sr. Honore Balzac,  escritor francês, que faz hoje 161 anos que morreu, escreveu (a mulher de 30 anos), talvez a sua obra mais conhecida do público em geral, mas também a mais polémica,  e aos olhos de muitos criticos a menos conseguida, abriu ao mundo uma nova designação das mulheres trintonas: (as balzaquianas)...

O escritor, mais do que um simples romance descreve a imagem
histórica do período pós revolucionário francês.

No romance desfilam relatos da inquietude das mulheres, retratadas no personagem central  Júlia d´ Aiglemont mulher trintona, mal casada, sofredora, obediente mas pouco resignada,  e consciente das imperfeições da instituição do casamento.

Através desta obra e das suas posições publicas, Balzac presta um inestimável serviço  às mulheres oprimidas da época, que frequentemente, como Júlia, casada com base nos interesses e
ideais de riqueza visionados por seu pai a levam a um casamento infeliz.

Mas Balzac quiz também no seu livro,  enaltecer as qualidades das mulheres que  passando a ser  menos jovens reuniam toda a estabilidade emocional de quem já estava afirmado na vida,
no seio familiar, nas amizades e nos conhecimentos tentando impôr-se ao despotismo de pais e maridos frequentemente,  tiranos.

Balzac visionava as mulheres de trinta anos como experientes, boas amantes, e sobretudo possuidoras da luxúria e desejo que até aos trinta, nas mais jovens, era mascarada pela coqueteria 
e futilidade própria das que sendo jovens mais fácilmente se submetiam aos desejos paternos e maritais. 

A mulher de trinta anos, abriu um marco na história da liberdade e emancipação das mulheres e goste-se ou não do
estilo de balzac, ELAS muito lhe devem.
A sociedade francesa, os pintores e retratistas da época encarregaram-se de nos deixar a ideia de que as balzaquianas eram  matronas redondinhas, de anca larga,  cabelos longos, frequentemente amarrados  num puxo na nuca, ou caídos em
caracóis trabalhados durante longas horas de ócio.

A educação das balzaquianas restringia-se a actividades  no ambiente doméstico, costurando, bordando, aprendendo música, pintura,  dedicando-se a outras atividades artisticas,
ou simplesmente existindo limitando-se à dondoquice...
As solteiras viviam esperando e sonhando casar com um marido
rico e se possível elegante e bonito; as casadas a  estas atividades
descritas juntavam a dedicação aos maridos, frequentemente déspotas, e á educação e criação dos filhos; frequentemente
calando no fundo de suas almas o grito de revolta que não conseguiam  libertar.
Daí a tanta polémica que o  livro "a mulher de trinta anos"
provocou... Ele mexeu com as regras estabelecidas...

Os tempos mudaram e pensar hoje nas mulheres trintonas, como Balzaquianas, a meu vêr é errado e utópico... e mais errado ainda é pensar na submissão existente naquela época; a mulher, dos novos tempos se é submetida será por fragilidade económica, por masoquismo, por burrice; quando não, pelas três razões juntas.

A mulher, se designada actualmente como Balzaquina, partindo
apenas do pressupôsto anatómico, bem pode considerar-se a dos quarentas, e até cinquentas já que hoje, o normal é as trintonas
vestirem-se, arranjarem-se e postarem-se como, ou melhor, que algumas jovens de vinte anos...
E tudo isto apesar de as mulheres balzaquianas de hoje terem
actividades e responsabilidades mais desgastantes e exigentes que as trintonas dos tempos de Balzac. Salvo rarissimas excepções as mulheres de hoje além dos seus empregos e carreiras ainda têm que cuidar, criar, e educar os filhos, dos maridos, do gato, do cão, das plantas e de uma infindável lista
de tarefas que guardam  nas suas cabeças, ah! e por vezes ainda
sobra um tempo para irem ao SPA...





pintura de Eugene Delacroix pintor do século 19


A todas as mulheres, balzaquianas ou não,
e à obra de H. Balzac que muito aprecio
deixo o meu abraço e o meu afeto.
João Quitério

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

SÁ DA BANDEIRA, A TUNDAVALA e eu...

Cristo Rei Lubango (imagem net)










Tundavala em lubango, angola; foto net
Tundavala pormenor da fenda; foto net







Como sempre abri a minha janela e espreitei os jardins; desta vez espreitei os jardins da minha juventude; da terna,  doce e ao mesmo tempo dolorosa saudade dessa extraordinária  cidade do Lubango, em Angola, no tempo colonial designada:
Sá da Bandeira.

Ainda jovem tive sempre comigo a ideia de que ninguém  pode
amar o que não conhece, razão pela qual sempre faço questão
de conhecer os locais onde por força das circunstâncias e do trabalho residi, ou resido.

Ora amar Angola eu já o declarei no meu outro artigo welwitschia a flor do deserto, mas amar a região da Huíla era a coisa mais fácil e contagiante num mundo que eu então descobria...
A capital, Sá da Bandeira era cativante, diferente, mágica; e por muito que os ateus neguem, ou os agnósticos debatam,  e uns e outros não dêem importância a isso; tinha, Sá da Bandeira, o pormenor de ser a cidade (portuguesa) que estava mais perto do céu, mais perto de Deus. 

A serra da leba, que lhe serve de cabeceira,  tem mais de dois mil metros de altitude encimada pelo monumento  a cristo redentor, e a meio da encosta a capela da sra. do monte... que por este dia 15 de agosto celebra a sua festa anual. 

Ali era mais simples um crente no divino sentir, numa noite limpida  que podia quase tocar o cosmos, protegido debaixo do extraordinário manto estrelado que nos cobria e abençoava, numa experiência unica, que dura por uma vida.
A partir da cidade e andando uns escassos 18 quilometros 
chegava-se fácilmente à fenda da Tundavala; fenda aberta na escarpa do planalto com,  mil metros de profundidade.
Recordo-me que gritando, o eco demorava largos segundos a ouvir-se...  
A beleza da paisagem que ao longe se avistava a muitos kilometros de distância, no vale luxuriante que se estendia até ao deserto do namibe, a terra da tribo dos mucubais, enchia a alma mesmo dos menos crentes.

Os tempos mudaram, mas por muito que mudem há coisas e
locais que são eternos como eterna deve ser a memória dos povos.

Sá da bandeira, após a independência mudou o seu nome para
Lubango, nome autoctone, com o que concordo, mas o nome de Sá da Bandeira está por demais ligado à vida do povo angolano  já que foi este Homem, politico e militar  que em Lisboa, junto do governo central, no século dezanove exigiu  e conseguiu, o fim da escravatura nas colónias de dominio Luso, tendo sido Portugal, por decisão do marquês Sá da Bandeira, o primeiro
país colonial a abolir a escravatura.
Está  na história dos dois povos, não pode ser apagada, e salvaguardando o respeito e merecimentos, de novos e mais recentes heróis, ninguém poderá esquecer ou disfarçar estas verdades, o marquês Sá da Bandeira foi o visionário da colonização organizada, mas foi também o primeiro homem no velho mundo europeu a  dar o tiro de partida para a abolição da escravatura, essa forma execrável de exploração e desenraização de homens e  mulheres com o intuito de favorecer
o enriquecimento e o capital de homens indignos, que os espalharam pelo continente americano.


Aos antigos e novos heróis de Angola...
A todos os meus leitores e em especial aos muitos que em Angola
lêem os meus artigos deixo o meu kandando, (abraço) e o meu afeto.

João Quitério






capela da Sra. do monte (imagem net)


quinta-feira, 4 de agosto de 2011

JOSÉ SOCRATES, E A DESVENTURA...




foto correio da manhã net




A imagem de José Socrates, elegante como sempre, aureolada pelos cabelos brancos; muitos mais do que quando subiu ao podêr; de pé à entrada da igreja, só, enquanto aguardava a chegada do corpo de seu irmão, falecido em Espanha, bem poderia dizer-se ser a imagem da desventura patenteada em três perdas: o poder, a morte súbita de seu pai há escassas semanas, e agora a do irmão António.

Os que já sentimos a perda do pai, do irmão, ou pior, dos dois,
ou mais pior ainda a perda também do projecto em que se acreditava;  goste-se ou não de Socrates, sabemos como o momento é difícil para qualquer ser humano enfrentar na vida
esta  trilogia de desgraça...

Os que ainda não sentiram, não estão isentos de  vir a sentir
o sentimento de perda, já que pela lei natural da vida, e salvo  algo inesperado, os pais morrerão primeiro, e manda o destino
e as leis naturais  e universais que todos um dia veremos partir
os pais,  eventualmente também irmãos, e os projectos de vida tendem cada vez mais a ser dependentes não do nosso esforço, nem das nossas capacidades, mas das leis irracionais do mercado, do liberalismo económico, da globalização,  do
capital, e imaginem, até dos rapazinhos teóricos das agências de ratings, que nunca vieram a portugal e sobre os seus créditos decidem sentados em poltronas nos gabinetes com ar condicionado na nação, neste momento, mais devedora do mundo, os Estados  Unidos.

Socrates  ao perder as eleições e consequentemente o poder,
no discurso que fez, mostrou uma dignidade pouco habitual nos
homens da politica...

Na perda do pai, algo inesperada e repentina, na dedicação
ao irmão durante a doença e na consequente morte deste, Socrates mostrou a grandeza de alma que torna os portugueses únicos e verdadeiros...

Inicialmente só, em frente á igreja onde chegaría o corpo de
seu irmão, não seria dificil adivinhar  que na mente do politico vaguearia a ideia de como na vida tudo é efémero e volátil...
Que tudo que nasce morre, e que cada dia é sempre, mas sempre, o primeiro dia do resto das nossas vidas.

Ao engº Socrates  e família com as condolências
deixo o meu abraço e o meu afeto

João Quitério