|
Cristo Rei Lubango (imagem net) |
|
Tundavala em lubango, angola; foto net |
|
Tundavala pormenor da fenda; foto net |
Como sempre abri a minha janela e espreitei os jardins; desta vez espreitei os jardins da minha juventude; da terna, doce e ao mesmo tempo dolorosa saudade dessa extraordinária cidade do Lubango, em Angola, no tempo colonial designada:
Sá da Bandeira.
Ainda jovem tive sempre comigo a ideia de que ninguém pode
amar o que não conhece, razão pela qual sempre faço questão
de conhecer os locais onde por força das circunstâncias e do trabalho residi, ou resido.
Ora amar Angola eu já o declarei no meu outro artigo welwitschia a flor do deserto, mas amar a região da Huíla era a coisa mais fácil e contagiante num mundo que eu então descobria...
A capital, Sá da Bandeira era cativante, diferente, mágica; e por muito que os ateus neguem, ou os agnósticos debatam, e uns e outros não dêem importância a isso; tinha, Sá da Bandeira, o pormenor de ser a cidade (portuguesa) que estava mais perto do céu, mais perto de Deus.
A serra da leba, que lhe serve de cabeceira, tem mais de dois mil metros de altitude encimada pelo monumento a cristo redentor, e a meio da encosta a capela da sra. do monte... que por este dia 15 de agosto celebra a sua festa anual.
Ali era mais simples um crente no divino sentir, numa noite limpida que podia quase tocar o cosmos, protegido debaixo do extraordinário manto estrelado que nos cobria e abençoava, numa experiência unica, que dura por uma vida.
A partir da cidade e andando uns escassos 18 quilometros
chegava-se fácilmente à fenda da Tundavala; fenda aberta na escarpa do planalto com, mil metros de profundidade.
Recordo-me que gritando, o eco demorava largos segundos a ouvir-se...
A beleza da paisagem que ao longe se avistava a muitos kilometros de distância, no vale luxuriante que se estendia até ao deserto do namibe, a terra da tribo dos mucubais, enchia a alma mesmo dos menos crentes.
Os tempos mudaram, mas por muito que mudem há coisas e
locais que são eternos como eterna deve ser a memória dos povos.
Sá da bandeira, após a independência mudou o seu nome para
Lubango, nome autoctone, com o que concordo, mas o nome de Sá da Bandeira está por demais ligado à vida do povo angolano já que foi este Homem, politico e militar que em Lisboa, junto do governo central, no século dezanove exigiu e conseguiu, o fim da escravatura nas colónias de dominio Luso, tendo sido Portugal, por decisão do marquês Sá da Bandeira, o primeiro
país colonial a abolir a escravatura.
Está na história dos dois povos, não pode ser apagada, e salvaguardando o respeito e merecimentos, de novos e mais recentes heróis, ninguém poderá esquecer ou disfarçar estas verdades, o marquês Sá da Bandeira foi o visionário da colonização organizada, mas foi também o primeiro homem no velho mundo europeu a dar o tiro de partida para a abolição da escravatura, essa forma execrável de exploração e desenraização de homens e mulheres com o intuito de favorecer
o enriquecimento e o capital de homens indignos, que os espalharam pelo continente americano.
Aos antigos e novos heróis de Angola...
A todos os meus leitores e em especial aos muitos que em Angola
lêem os meus artigos deixo o meu kandando, (abraço) e o meu afeto.
João Quitério
|
capela da Sra. do monte (imagem net) |