O ZÉ pov. omeuflashblogspot |
Foi nos aliados, à saída do metro que me encontrei com o ZÉ e o cumprimentei.
-Então ZÈ como vai a vida, já encontraste trabalho?
Interrompendo-me, puxou para trás o chapéu e de rajada começou um quase monólogo ao seu geito:
Olha João: o Salazar queria que no futuro eu fosse feliz, acumulou toneladas de ouro... mas mandava a pide atrás de mim; caíu da cadeira e só nessa altura me fez feliz...
-Ó ZÈ, mas...
E continuou sem parar:
-Qual mas nem meio mas...O Caetano até tinha comigo conversas em família e também manifestava o desejo de que eu fosse feliz no futuro; então pensei: agora talvez a coisa vá... mas mandava censurar o que eu escrevia e não fui feliz...
-Ó zé! Mas sempre havia trabalho...
Ele continuou mais entusiasmado:
-A revolução dos cravos despediu o Caetano e então veio a liberdade e com ela a democracia; essa forma de governar e ser governado, que não sendo perfeita, é pelo menos mais justa.
Fui feliz, e por momentos acendeu-se de novo a esperança no meu peito, mas murchou tão rápido como murcharam os cravos.
Desanimei mas os governantes que se seguiram, sem excepção, todos me prometeram que eu seria feliz no futuro... E eu esperei...
Mas a realidade é que fiquei sempre esperando...
Eles teimam que eu apenas seja feliz no futuro, mas o futuro ou
não sei o que é, ou então de burro que sou não o encontro, e não tenho GPS que me ajude.
Agora até o meu patrão me despediu dizendo que talvez no futuro...
Já consultei adivinhos e videntes para saber onde encontro o futuro
mas nem eles sabem onde pára.
Olha amigo, desesperado fui lá cima à aldeia, subi à montanha e como um maluquinho perguntei ao vento e também ele nada me disse...
-Ora ZÉ agora talvez a coisa...
-Não, pôrra!
-Eu tenho direito a ser feliz hoje, agora, já... e eles só me querem feliz no futuro, e cada fornada de governantes que vão surgindo é pior que a anterior.
Todos me pedem sacrifícios para o futuro, todos me prometem ser feliz no futuro que nunca mais encontro.
As finanças e os banqueiros fizeram uma vaquinha e juntos já
me tiraram as mobilias, o carro e a casa, e agora para cúmulo
até o merceeiro me quer penhorar o chapéu; diz que pode vir a precisar dêle quando tiver que ir para uma esquina pedir esmola.
Desanimado com a raiva que lhe ía na alma, mas cantarolando:
eles comem tudo, eles comem tudo... O ZÉ lá partiu cabisbaixo,
à procura do trabalho e do futuro que não encontra.
Rápido como chegou, foi andando mas fazendo um real manguito, dizia: para eles... para eles...
...e acrescentou ao aceno de adeus:
João: se não nos encontrarmos antes, vemo-nos daqui a quatro anos quando fôrmos votar... no futuro, no futuro
Deu um geito ao chapéu e lá se perdeu no meio doutros tantos que também andavam à procura desse tal de futuro.
O ZÉ no seu melhor. Foto vidas lusofonas |
Ao meu amigo ZÉ,nem me atrevi a dizer que o amanhã será melhor, (senão fôr pior)
Para o ZÉ o meu abraço e muito afeto
João Quitério
Eles prometem-nos a felicidade no futuro, mas vão sendo felizes no presente!
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